Aventura na Ilha Comprida



Morar no interior tem muitas vantagens, mais tem um problema sério: é longe da praia, e praia, todo brasileiro tem que conhecer.
Minha cidade fica a uns 250 km da costa  e o pessoal do Santuário nos anos 80 ainda não tinha explorado o caminho do mar, até que o saudoso Joaquim Português chegou no bairro. 
Ele veio da grande São Paulo pra morar numa chácara do lado da minha casa com sua esposa Margarida e os filhos Irineu, Marcelo e Ricardo. Família maravilhosa, amigos para sempre. 
Logo o Joaquim tratou de organizar uma excursão para Santos, essa foi a primeira vez que minha família viu e se maravilhou com o mar. Não me lembro bem desta viagem, eu era muito pequena. E também não sei ao certo quantas excursões se seguiram depois dessa, mas me lembro da primeira vez na Ilha Comprida.
Alugamos uma casa de um amigo do Tio Ditinho, lotamos um ônibus e levamos todo o suprimento necessário para a estadia. Alimentação básica: arroz, feijão, macarrão, massa de tomate, óleo, carne, pão, mortadela, bolacha, “caixa” de laranja, cerveja, refrigerantes, etc. Cada família com suas malas, sacolas, cobertores, travesseiros, colchonetes. Tudo organizado no bagageiro. Dentro do busão aquela festa, mais malas, mochilas, sacolas, e claro os lanchinhos e comidas pronta para comermos durante a viagem e na parada obrigatória na Cabeça da Anta (se você já foi para o litoral pela serrinha de Juquiá, com certeza sabe do que eu estou falando). No nosso kit de sobrevivência  não faltou café com leite e adivinha... frango com farofa.
Saímos de madrugada para chegarmos bem cedinho em Iguape. 
Tudo pronto, pé na estrada. Alguém acalma a criançada e puxa o terço, todo mundo participa da reza que dura uns 20 minutos. Depois, uns dormem, outros proseiam, contam piada, todos cheios de expectativa.
Quando chegamos em Iguape o povo se espalhou pelas ruazinhas antigas, explorando as lojinhas, a Igreja, a praça. Mas a viagem ainda não tinha acabado, para chegar na ilha teríamos que atravessar a balsa, e lá vem o Joaquim com cara de preocupado e uma noticia não muito boa: não era permitido ônibus na balsa, teríamos que atravessar a pé. Problema nenhum! Animado, o povo tirou a bagagem do ônibus, cada um carregou oque podia e em procissão seguimos para a balsa (para Caco Antibes do Sai de Baixo, seria a visão do inferno).
Pé na areia! Chegamos na ilha, que na época não era muito movimentada, poucos carros na balsa, infraestrutura pobre, mas que importância tem isso, dali já se ouvia o barulho do mar.
Parada básica para checar se estavam todos ali, e uma breve reunião para traçar um “plano” de como chegar na casa. Mapa? não tínhamos. Endereço? também não, mas alguém trazia uma foto, isso mesmo, uma foto. E era tudo que tínhamos para encontrar nosso destino.
Começamos a caminhar na areia numa vereda que ao que parecia nos levaria a praia. Homens, mulheres e crianças levando aquele bagageiro lotado do ônibus nas costas sem saber se aquele era o caminho certo, ate que um morador da ilha apareceu no meio do mato.
    - Bom dia meu Senhor! precisamos de ajuda.
O homem prontamente de dispôs a nos guiar e disse que tinha uma “perua”.
    - Muito obrigada, se o senhor levar as mulheres e as crianças, já ajuda muito.
Para todo mundo, e espera o senhor voltar com a perua. Não demora, ele aparece empurrando um carrinho de mão. Falar oque? Na minha terra perua era Kombi da Volks ou a "mulher" do peru, mas nós não estávamos no nosso território, e no final das contas era melhor do que nada. Acredito que ajeitaram as coisas mais pesadas na “perua” e seguimos nosso guia que pelo menos sabia como chegar no mar.
E seguindo a toada do Chitãozinho e Xororó: andei andei andei ate encontrar...
E encontramos a casa da foto!! Tinha um portão marrom e um chapéu de praia (a arvore) na frente. A praia era pertinho, era só atravessar a rua. Que alegria! Valeu a jornada. Dividimos a casa de dois quartos, sala, cozinha e um banheiro da melhor maneira possível e nos divertimos pra valer.  .
Com certeza os mais velhos vão se lembrar do peso da bagagem, do pouco espaço para dormir, da fila do banheiro, do tanto que tinham que cozinhar, da areia em todo canto da casa, mas também se lembram das boas piadas, da cervejinha com camarão frito na beira da praia, da caminhada matinal vendo o sol despontar no mar e da alegria das crianças. Eu me valho da vantagem de ser criança e só me lembro que tudo era muito engraçado e divertido. 
Nos anos seguintes já sabíamos o caminho e visitar o mar virou compromisso anual quase obrigatório, às vezes de ônibus, outras de carro. Embora com pouco dinheiro sempre se dava um jeito. Acumulamos boas lembranças e muita estória pra contar. Valeu a pena!


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