Meu Santuário

Com o passar do tempo, nós vamos aprendendo a entender o significado  das pequenas, mas poderosas coisas que  nos ensinam os nossos familiares, nossa comunidade e a sociedade de  modo geral. E aprendemos também a dar valor a alguns costumes que sem perceber fortalecem nobres valores e estreitam laços.  Minha  família, assim como muitas, tem o costume de "pedir a bênção". A criança aprende a juntar as mãozinhas e estende-las na direção dos mais velhos: pais, avós, tias e tios, que com ternura  tocam as mãos da criança e dizem: Deus te abençoe. Assim como bater  palmas, mandar beijinho e acenar, o gesto da bênção enche os  adultos de admiração e orgulho da  pequena criatura, que tão graciosamente vai nos copiando. A gente cresce, e  passa apenas  a pedir a bênção sem prestar muita atenção no gesto das mãos: _ A bênção mãe. _ Deus te  abençoe.  As palavras vêem automaticamente, por força do habito, e desta forma recebemos e  damos a bênção sem prestar muita atenção no que isso s

Teve festa de novo na Chácara Coração de Mãe, começo de Novembro tem aniversário em dose dupla, é o mês dos homens da  família, meu pai e meu  irmão, e pra melhorar dois grandes amigos, o Toninho e o Albino, todo ano se juntam pra comemorar.  Tenho certeza que  a comida estava boa e a  conversa melhor ainda. Sinto muita falta deste povo e gostaria de poder estar lá  pra comemorar  os aniversários e  as novidades, o Toninho vai ser pai  de novo, parabéns!  O Reginaldo está terminando a  faculdade, parabéns! A Cris vai  fazer arquitetura, parabéns! Parabéns aos aniversariantes! Muitos anos de vida! Ao meu irmão um abraço carinhoso; se cuida baixinho e continue  forte e auto confiante, dê muitos abraços e beijos nessa família linda que nós temos.  Ao meu pai um abraço forte e cheio de admiração. Parabéns pelos  61 anos! Eu te amo muito 

Cheguei  aqui na primavera e vi a natureza brotando do nada, árvores imensas com minúsculas folhinhas verde claro, flores fazendo festa em  todo canto. Dia após dia, os parques foram ganhando volume, no alto as folhas cresceram rápido e mudaram o verde de tom, no chão os canteiros ganharam cores, vivas cores das tulipas, verdadeiras obras  de arte, e um conjunto harmonioso de tantas outras flores que não sei o nome, as tulipas se vão e as rosas vêm. Portland é a cidade das rosas e não é difícil entender porque, abriga um jardim com mais de 500 variedades delas, de cores e perfumes diferentes.  Durante verão elas estão em toda parte, praças, parques, prédios públicos e privados e nas calçadas e jardins. No verão é tudo muito verde, colorido e vivo, de longe a floresta é um grande  mosaico de  verdes e formas diferentes. Estamos no outono, e as folhas que vi brotar num verde claro, quase florescente, agora pintam as ruas, os parques e a floresta de amarelo, rosa, laranja e 

Há décadas começamos a ouvir um burburinho diferente e  preocupante no meio do mato, as  vezes  gritos assustadores. Uns malucos foram investigar e voltaram desesperados ao se  deparar com a sujeira e a destruição que o progresso da cidade estava deixando no campo, encontraram rios  poluídos, animais mortos, florestas devastadas e lixo, concluíram que o plano de crescimento econômico e geração de riqueza experimentados  e aprovados  na revolução industrial  estava errado e começaram a  espalhar o  pânico, se  organizaram, fizeram protestos, tentaram avisar, em 1972, na Conferência das Nações Unidas em Estocolmo defenderam o "Crescimento Zero", porque acreditavam que a exploração dos recursos naturais naquele ritmo era insustentável  e  o planeta não suportaria. Foram ignorados, mas não pararam de  lutar e progrediram, os  pactos, consensos, tratados e protocolos assinados durante esses anos representam uma grande  conquista. Hoje os gritos de protestos foram substituídos por

Hoje é terça-feira, dia 07 de Setembro de 2010, manhã nublada em Portland, garoava quando o dia amanheceu. Paisagem bonita na  minha janela, rua calma, asfalto úmido,  algumas folhas caindo precipitando o outono, ar fresco, quase frio. Acordar, despertar, recomeçar, minha mente conjuga esses verbos repetidamente essa manhã, como se o dia fosse diferente dos outros dias, como se algo novo começasse. E começou, minha filha foi para escola hoje, seu primeiro dia no colegial aqui nos Estados Unidos, os adolescentes estavam exultantes com esse dia, nova escola, novos professores, novas matérias, mas Nagila tem o coração apertado  e sentimentos misturados, para  ela é uma escola nova num pais novo, com  pessoas diferentes. Ela é apenas uma menina, ainda não consegue ver os novos amigos e as inúmeras  portas que se abrem e se abrirão. Uma menina linda, cabelos  longos, discretamente coloridos, pequenos olhos  castanhos sempre delineados com lápis preto, sorriso perfeito, doce voz de criança c

Relacionamento, casamento são temas  frequentemente explorados pelos autores de livros, filmes, novelas, etc, especialmente os problemas relacionados a eles. Aprendemos a pensar em casamento como um peso, uma prisão, nossas brincadeiras revelam isso claramente: _ Vai pra forca? _ Quem está dentro quer sair, quem está fora quer  entrar! _ Vai casar mesmo, pense bem, é tempo ainda.  E assim vai, quem nunca fez uma brincadeirinha dessa com um amigo que acabou de anunciar sua importante decisão? Claro que na sequência vem um parabéns, felicidades e tal. O amor não, o amor tem ou tro tra tamen to, o único problema  do amor é que ele leva  ao casamen to. Filme romântico geralmente começa com um solteiro em crise existencial ou recém-divorciado com problemas emocionais, acaba com um encontro apaixonante, muitos beijos, sexo intenso e...  casamento. Se o filme começa com casamento, o romance promete ser dramático. O tema não se esgota, apesar de ser antigo e previsível. Na vida re

Toda família tem suas datas especiais, casamentos, nascimentos, formaturas, etc. E na medida que a família  cresce o calendário vai ficando cada vez mais festivo. Aniversário lá em casa não passa batido, sempre tem um jantarzinho, uma festinha com um bolinho ou um festão com um bolão, as  vezes é só a família, outras, família e amigos, e não interessa  se você já sacou, estão sempre tentando preparar uma surpresa, e isso é coisa  da  D. Inês. A simplicidade e  o carinho sincero  é o melhor presente, me lembro de um aniversário da minha mãe, quando ainda  éramos crianças, meu pai não achou um bolo, comprou então um pão bem grande, se  não estou  enganada, tinha  forma  de  jacaré, arrumamos a mesa na cozinha de fora, com o pãozão no meio e chamamos a D. Inês, abrimos a porta e... Parabéns pra você, nesta data  querida... Foi muito divertido. Mas minha mãe não esquece do bolo, ela dá um jeito, encomenda na  padaria, pede  para a Tia  Cidinha ou ela mesmo faz um, geralmente ela se concen

Moro a cinco quadras do supermercado  e sempre vou caminhando quando preciso de alguma coisa. Ontem foi um desses dias, resolvi fazer uma sopa de última hora, e  cadê o frango? Lá fui eu para o "New Season Supermarket". Para a minha alegria, aqui as pessoas também se cumprimentam na rua mesmo sem se conhecer, uns dizem que só acontesse aqui neste bairro, outros que é caracteristica da cidade, de qualquer forma, gostei e aderi. E ontem fui andando e, _ Hi! Sorriso no rosto  e _ Hello! _ Good evening! Ao atravessar a rua, o motorista, muito  educado, pára e eu, _ Thank you! Cheguei no mercado e fui direto ao açougue, _ Please, a 1/2 pound of boneless chicken breast. _ Ah? - Não sei porque eles nunca me entendem de primeira, ai eu recorri a lingua universal: o dedo indicador. _ This one, 2 pieces. _ Thank you! O caixa, um moço simpático, cabelo comprido, tatuagens ao longo do braço todo, piercing, sorrisão. _ Good evening, how are you doing toda

Lembro com muito carinho da minha infância e adolescência, quando a estrada do Santuário não tinha nome nem asfalto e os pomares carregados de laranjas e mexericas ficavam avermelhados de poeira com o movimento dos carros e caminhões, creio que  a lembrança da  poeira vermelha  não é nada  prazeirosa para  minha mãe que dava  duro para manter a casa limpa. Tenho que  concordar que a paisagem ficava mais  bonita  depois da  chuva, em compensação a estrada virava um problema. Até a terceira série a criançada ia a pé na escolinha perto da igreja,  depois crescemos nos ónibus São Jorge e Rosa indo e voltando para estudar na cidade, rotina cansativa,  mas nada  comparada com a do meu pai que  caminhava quilómetros diariamente para completar o primário no Morro do Alto e depois foi  para  Tatui sozinho aos 13 anos de  idade para  trabalhar e con tinuar estudando, fato que ele faz questão de nos  lembrar sempre que tem oportunidade. Valeu Pedro Aires! A família  segue evoluindo, acompa

Minha mãe nunca nos deixa esquecer que domingo é dia de missa, e foi pensando nela que chegando aqui tratei de procurar uma igreja onde eu pudesse cumprir esse sagrado preceito, não que eu o faça por obrigação, eu gosto, gosto da  ideia de comunidade, de reunião, gosto do silêncio, da  meditação, gosto de acreditar que existe uma força maior e de  reverencia-la, e gosto de ver os Homens se tratando como irmãos, mesmo sabendo que a hipocrisia existe, camuflada ou não em qualquer religião.  Aqui o rito também segue as regras do Vaticano, fácil de entender apesar do idioma diferente, pois a liturgia me é muito familiar. A música me lembra nossas músicas natalinas, vozes de  coral, piano e violão dão o tom de solenidade. Fico no ultimo banco observando a assembleia, colorida como a nossa, nas  roupas e na pele, idosos, jovens e crianças, famílias inteira, seguem os mesmos movimentos de  reverência e de fé, pacientes, cordiais, se  organizam em filas, se ajoelham, se cumprimentam, al

Pimenta abre o apetite, aguça o paladar, dá sabor e cor aos pratos triviais, e "esquenta"  os pratos exóticos. Tem pra todo gosto, da delicada pimenta rosa na salada de chuchu a brava malagueta no acarajé . Meu pai e o Reginaldo vivem fazendo novas experiências com a cambari , curtida no óleo de soja, no azeite, na cachaça, no  vinho, e da-lhe criatividade, de qualquer jeito é bom não exagerar, tem que ser na base do conta gotas. Eu gosto da pimenta verde bem aplicada em pratos sofisticados e da saborosa dedo de moça no molho da D. Maria, minha avó. O molho fica bonito que só, pimenta, alho e limão rosa bem maduro, arranjados num litro de conhaque ou num pote de maionese, tem outro ingrediente pra conservar, mas é segredo de família. Sábado a tarde é hora boa de visitar D. Maria, a gente vai chegando no portão e já dá pra ver o movimento na varanda da cozinha, do portão pra dentro se ouve a prosa animada, tia Célia está ai, tia Lúcia também. Depois dos cumprimentos e bênç

Ela vai se mostrando lentamente entre os telhados pontudos e as árvores altas aqui em Portland , linda, brilhante, cheia, a mesma lua que você vê na foto ao lado entre as árvores na casa na minha avó. Quantas vezes eu olhei para ela e orei, pedindo que vigiasse o Alan por mim aqui nos EUA, que lhe desse um pouco dessa paz que sua luz transmite e que ele pudesse sentir minha presença quando olhasse para ela. Cá estou eu diante dela novamente e oro para que ela toque suavemente as pessoas queridas que repousam no meu Santuário, ai no hemisfério sul, libero minha imaginação e vou para o mundo da lua, de onde posso ver os telhados como ilhas cercados de verde, a igreja, a estrada, o rio, os caminhões carregados rumo ao SEASA , piscinas e lagos, o gado agrupado descansando no pasto, um gol prata esquecido sob o sereno e um portão de metalon branco fechando meu perímetro sagrado.  Paz é o que sinto e paz é que peço para todos os lares onde essa luz azulada e fria pode chegar, sono tranq

Tem milho granado na roça do Batista , pede para o  Zico colher umas espigas e vamos fazer um " mingauzinho ".   Assim  começa a organização do jantar, a conversa acontece lá pelas 2 da tarde, às 5 o milho está colhido e entregue na casa da Inês e os frangos já estão limpos e temperados, e dá-lhe trabalho: descasca o milho, lava, rala, peneira, Maria Aparecida pica o cheiro verde que ela trouxe da sua horta, Tia Cidinha atende o frango na panela que é para ficar bem dourado e fazer aquele caldinho caipira que é uma delícia. Não pode faltar o arroz especial da Dona Inês e uma salada caprichada, Ana Lúcia trouxe quiabo para incrementar o menu. Reserve um pouco do milho para o curau e umas espigas para Elaine fazer virado.  Muita conversa, muita risada, ninguém reclama da trabalheira, nem da bagunça , o tempero é alegria. A matriarca, Dona Maria ajuda no que pode sem perder a pose, sempre charmosa com seu cabelinho prateado. Convida a vizinhança, liga para o Albino e a Ma

Ola!  Primeiro muito obrigada por acessar esse blog, é um prazer te-lo aqui. Resolvi  criar esse espaço na internet para expressar e compartilhar meus sentimentos, tendo como ponto de partida a imensa saudade que sinto da minha família e dos meus amigos no interior de São Paulo e a veneração que eu tenho pelo bairro onde fui criada, o Santuário Nossa Senhora de Fátima, o bairro também tem outros nomes: Oliveiras, Agua Branca, mas todo mundo conhece como Santuário  por causa da Igreja que o povo construiu lá em devoção a Nossa Senhora de Fátima. Passei dias pensando na melhor maneira de descrever esse sentimento de orgulho e saudade, quando penso nas pessoas que vivem naquele pedacinho do planeta, e conversando pelo messenger com a Selma e com a Nádia, amigas muito queridas, decidi por falar de Santuário , não no sentido literal do bairro ou do templo, mas de um lugar sagrado, onde a gente deposita nossos tesouros, os melhores sentimentos,  as ternas lembranças,  as aspirações e o