A Bênção...

Com o passar do tempo, nós vamos aprendendo a entender o significado  das pequenas, mas poderosas coisas que  nos ensinam os nossos familiares, nossa comunidade e a sociedade de  modo geral. E aprendemos também a dar valor a alguns costumes que sem perceber fortalecem nobres valores e estreitam laços. 

Minha  família, assim como muitas, tem o costume de "pedir a bênção". A criança aprende a juntar as mãozinhas e estende-las na direção dos mais velhos: pais, avós, tias e tios, que com ternura  tocam as mãos da criança e dizem: Deus te abençoe. Assim como bater  palmas, mandar beijinho e acenar, o gesto da bênção enche os  adultos de admiração e orgulho da  pequena criatura, que tão graciosamente vai nos copiando.

A gente cresce, e  passa apenas  a pedir a bênção sem prestar muita atenção no gesto das mãos:

_ A bênção mãe.

_ Deus te  abençoe.

 As palavras vêem automaticamente, por força do habito, e desta forma recebemos e  damos a bênção sem prestar muita atenção no que isso significa. As vezes o "a bênção mãe" substitui o "bom dia".

Mas em ocasiões especiais esse gesto ganha um significado especial, por exemplo: quando casamos, quando saímos de casa, quando temos um projeto importante pela frente, quando vamos ter um filho, quando precisamos. É como oração, podemos orar todos os dias, mas oramos intensamente e com profundidade quando precisamos.

E nessas ocasiões, a bênção dos nossos familiares, acompanhada ou não pelo gesto das mãos, nos dá força, segurança e fé, porque significa: "estamos com você", "vai dar tudo certo", "não se preocupe", "fique em paz", "se precisar estamos aqui".

Com o tempo os costumes mudam, e talvez hoje as crianças já não arrumem as mãozinhas e a gente esquece de pedir a bênção, eu esqueço, mas minha mãe ignora a ausência do pedido e sempre me recebe com o "Deus te abençoe". Meu pai tem um jeito especial de abençoar, ele faz o sinal cruz na nossa testa, minha mãe me contou que ele faz isso para ela toda noite antes de dormir. Eu aderi o beijo na testa, gosto da  simbologia  do  beijo.

Deixar meu país e minha família para construir  minha vida aqui nos EUA foi  muito dolorido, e um dos  momentos mais difíceis foi a despedida no aeroporto. As lembranças dos abraços, das lágrimas e das  palavras de carinho me fazem chorar sempre, mas tem uma imagem, em especial, que me emociona  mas também me impulsiona, me faz ter certeza que estou no caminho certo, é a lembrança do meu pai tentando disfarçar a emoção  com uma risada desajeitada, como se risse dele mesmo por querer chorar, ele levou a mão na minha testa e fez o sinal da cruz, não me lembro se disse algo, mas nem precisava. No meio  de tanta  emoção, medos e duvidas, a bênção da  minha família pelas mãos do meu pai foi como bálsamo naquele momento, e todos os dias, em especial aqueles nos quais meu coração parece se espremer dentro do peito,  lembro da força contida naquele gesto, da energia  transmitida e da fé compartilhada, levo a mão na  testa... Amém...